Crianças e adolescentes na construção de um futuro sustentável


Em 2004, a Organização Mundial da Saúde – OMS publicou o Atlas da Saúde Infantil e o Ambiente, revelando que, em todo o mundo, a contaminação do meio ambiente mata mais de 3 milhões de crianças a cada ano. A publicação demonstrou também que, apesar de então representarem apenas 10% da população mundial, as crianças eram vítimas de 40% de todas as doenças relacionadas com problemas ambientais. Embora o Estatuto da Criança e do Adolescente não fale diretamente sobre o direito a um meio ambiente equilibrado, os direitos absolutos de crianças e adolescentes à saúde, ao desenvolvimento pleno e à vida trazem em si a necessidade de a sociedade comprometer-se com as questões ambientais e de desenvolvimento sustentável.

 
A Agenda 21 foi uma das principais contribuições da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento – UNCED/Rio-92. O documento trata da importância de que cada país se comprometa a refletir e a agir, local e globalmente, para que governos, organizações não-governamentais, empresas e todos os demais setores da sociedade civil possam cooperar para encontrar soluções para as questões socioambientais mundiais.

Em seu capítulo 25, a Agenda 21 chama a atenção para a importância da participação de crianças, adolescentes e jovens no desenvolvimento sustentável. “A juventude representa cerca de 30 por cento da população do mundo. O envolvimento da juventude de hoje nas tomadas de decisões sobre o meio ambiente e desenvolvimento e na implementação de programas é fundamental para o sucesso em longo prazo da Agenda 21”, diz o documento.

Para o educador ambiental Francisco Schnoor, é preciso oferecer informações para incentivar a reflexão de crianças e adolescentes sobre o desenvolvimento e incentivá-las a tornarem-se atores dos processos de decisão. “A educação ambiental com crianças e adolescentes é importantíssima, porque você vai pegar a base da sociedade, as cabeças pensantes daqui a dez ou quinze anos, e fazê-las começar a refletir criticamente sobre a atual crise global, uma crise estrutural que requer mudanças de paradigmas, principalmente em relação ao consumo e em relação aos modos de vida”, disse.

Para Schnoor, crianças e adolescentes ainda estão muito desligados das questões políticas atuais e, para incentivar sua participação e promover seu empoderamento, a educação ambiental tem a função de ser uma educação crítica. “Quando você fala de meio ambiente, você não está falando só de Amazônia, da onça no Pantanal, da Mata Atlântica, meio ambiente é a nossa casa, a nossa rua, nosso esgoto, nossos resíduos, nosso consumo. Tudo isso faz parte do meio ambiente. E a criança e o adolescente estão mais abertos a receber informações e a pensar sobre como se estrutura nossa sociedade e sobre como fazer para mudar hábitos e criar uma maior harmonia entre a sociedade e o meio ambiente, algo que vai ser necessário para que a gente consiga se manter vivo enquanto espécie”, afirmou.

A questão central da educação ambiental, segundo Schnoor, é conscientizar crianças e adolescentes para que eles se vejam como parte presente no meio ambiente e possam empoderar-se para participar ativamente do debate sobre as questões ambientais. “É importante mostrar para a criança que ela é uma parte ativa dessa mudança; mostrar que elas serão as tomadoras de decisão daqui a vinte anos e que elas deverão estar conscientes para construir uma harmonia entre sociedade e natureza, aproveitando os avanços da modernidade, mas respeitando a finitude dos recursos naturais”, explicou.

O educador é um dos fundadores do Instituto Moleque Mateiro de Educação Ambiental, organização que desenvolve atividades de educação ambiental com crianças e adolescentes e de formação de corpo docente. A partir dessas atividades, Francisco observou como as crianças mostram-se abertas a aprender a partir de atividades de experienciação e contato direto com as questões ambientais. “A criança vai se lembrar daquele momento como um momento em que ela aprendeu prazerosamente, os conteúdos são passados durante caminhadas, banhos de cachoeira, com a mão na terra. Assim, lembrando do aprendizado como um momento bom, as crianças vão pensar no que elas viveram naquele dia, no que elas aprenderam, e vão levar isso pra casa. Temos exemplos de crianças de três ou quatro anos de idade que pedem aos pais para gastar menos água em casa, pedem para ver a conta de água para saber como economizar”, contou.

Mutirão de educação ambiental

Paralelamente à Rio+20, o Instituto Estadual do Ambiente – INEA promoveu, nos jardins do Museu da República, um mutirão de educação ambiental em parceria com ONGs e empresas. Entre as ações foram debatidos com adolescentes do ensino médio, oficinas de hortas caseiras, de minhocários e de reutilização de garrafas PET e embalagens Tetra Pak. 

Além das oficinas, exposições narraram a linha do tempo dos 20 anos até a Rio+20 e falaram sobre o lixo retido nas Ecobarreiras, instalações posicionadas nos rios que desaguam na Baía de Guanabara para evitar que o lixo seja nela despejado.

Por Bernardo Vianna - Via Blog