Paulista recebe a ciclovia luta da reivindicação antiga

Cartão postal da cidade de São Paulo deixará de ser o símbolo de tragédias com ciclistas

A região da Paulista, mais movimentada da cidade de São Paulo, ficou marcada por vários acidentes fatais de ciclistas que pedalavam na avenida para esporte, lazer ou trabalhar.

A prefeitura de São Paulo inaugurou a ciclovia na Avenida Paulista no final do mês de junho. A conclusão dos trabalhos entre a Rua da Consolação e a Praça Oswaldo Cruz, que segue pela Avenida Bernardino de Campos será entregue no fim de julho. Diante da necessidade as ciclovias foram inevitáveis. O prefeito de São Paulo e ciclista, Fernando Haddad, ouviu a voz das ruas e atendeu a reivindicação dos ciclistas.

Início das obras gerou intolerância por desafetos e não ciclistas

De acordo com a secretaria de transporte, a ciclovia permitirá acesso ao Centro (veja abaixo no mapa), região do Estádio do Pacaembu, Avenida Brasil, Parque Ibirapuera, além do Metrô Jabaquara. Os ciclistas terão a opção para a região central, à Rua Vergueiro, e agora à Rua Frei Caneca. Também, de acordo com a engenharia, os usuários poderão seguir da Paulista pela Rua Itápolis chegando até a FAAP ou o estádio do Pacaembu, informou na época do início das obras.

Ciclistas corriam risco na faixa segregada por cones e pintura. Motorista bêbado atingiu usuário, que perdeu o braço

Do lado direito, sentido bairro, tem a opção via Haddock Lobo e Bela Cintra conectando à região da Avenida Brasil. E também vai ter uma outra conexão da Pamplona com o parque Ibirapuera. E sem contar aquela conexão no sentido Jabaquara, e a continuidade para chegar até a estação Jabaquara do Metrô.
Fernando Haddad, progressista e ciclista, ouviu a voz das ruas e deu a iniciativa para a construção da ciclovia

A construção de uma ciclovia era emergente e necessária diante de tantos acidentes fatais que fizeram vários ciclistas perderem a vida. Segundo dados da CET, a Av. Paulista incluída na meta de 400 km  no plano de mobilidade da Prefeitura, é a via com mais acidentes com ciclistas por quilômetro em São Paulo (foram 15 – registrados – entre 2009 e 2011). Nela ocorreram atropelamentos emblemáticos, como as mortes de Márcia Prado (2009) e Julie Dias (2012) e o caso de David Santos Souza (2013), que teve seu braço arrancado ao ser atropelado em área segregada com cones por um motorista embriagado.

Ghost bike Marcia Prado, símbolo em exposição permanente na av Paulista em homenagem a uma ciclista, militante
defensora da bicicleta e da ciclovia. Imagem: Willian Cruz

Vários protestos foram realizados pela avenida para chamar atenção da sociedade e do poder público,  e exigir imediatamente ciclovia na região, já que a avenida Paulista e as adjacentes  tornaram-se símbolo de mobilidade para ciclistas e skatistas. Apesar do alto índice de usuários que utilizam as vias e calçadas para diversão e esporte, diariamente, as bicicletas são utilizadas como meio de transporte ou mesmo para trabalhar. A história triste do trabalhador Marlon, que perdeu sua vida enquanto lutava dia a dia como courier, revelava um cenário comum para quem enfrentava carros, ônibus e caminhões.

Bicicleta do trabalhador Marlon. Imagem: Talita Rodrigues
Em outubro de 2014, o atropelamento de Marlon Moreira de Castro, de 35 anos, ocorreu por volta do meio dia, no cruzamento com a Av. Brigadeiro Luis Antônio – que já foi chamada de esquina da morte, devido ao alto índice de acidentes com ciclistas, é considerada a avenida campeã em atropelamentos. Marlon trabalhava como bike courier numa empresa da região há cerca de três anos e morava em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo.

Ainda em junho de 2014, entrevistado pelo blog “Pé de Vela”, Marlon contou que começou a pedalar para se livrar de uma depressão. Segundo ele, a sensação de liberdade o ajudou. “A inclusão das bicicletas nas grandes metrópoles é inevitável”, afirmou Marlon. 

Mobilidade urbana inclui acessibilidade para cadeirantes.
Vale ressaltar que usuários de triciclos, patins, skates e cadeiras de rodas podem utilizar os mais de 200 km de ciclovias já construídos na cidade. Decreto publicado em dezembro no Diário Oficial da Cidade garante ainda a circulação de bicicletas de carga e quadriciclos com ou sem reboque. Medida garante segurança e incentiva o compartilhamento de espaços por veículos equivalentes atrelado e ainda veículos de propulsão elétrica, não comparados a ciclomotores, como cadeiras de roda motorizadas.

As polêmicas se seguiram contra as ciclovias, como a grande mídia e os desafetos, que não usam a magrela, insensíveis no entendimento da necessidade de uma sociedade em desenvolvimento que utiliza a bike em benefício ao meio ambiente, com déficit de veículos nas grandes cidades. Afinal, a intolerância perdeu crédito na medida que as metrópoles de cidades estrangeiras adotaram as políticas públicas da mobilidade com as ciclovias e o uso de bicicletas para o transporte, garantindo a qualidade de vida de sua população. E por que São Paulo não poderia avançar? A necessidade e os movimentos da maioria ganham o seu espaço.
Planejamento e arquitetura das vias para as ciclovias da região da Paulista. Imagem: CET/SP

Serviço
O quê - Inauguração da ciclovia da av. Paulista
Quando - 28 de junho - 8h
Local - Av. Paulista x Rua da Consolação

Por Márcia Brasil

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