Reencontro com Bertold Brecht e Maiakóvski

Por Edinho Silva - 03.01.10

Hoje quando li uma mensagem do Manoel de Araújo relatando acontecimentos na imprensa de Araraquara, retratando atos de censura, senti muita vontade de reler os poetas que contribuíram muito para a minha formação enquanto um homem que acredita na transformação social e que sempre sonhou com a democracia plena, onde os seres humanos pudessem ter igualdade de oportunidades, independente do lugar onde nasceu, da sua condição econômica, ou até mesmo estivessem libertos daquela pergunta que expressa a síntese do preconceito, que muitas vezes ouvi em Araraquara: "de que família você é?".
 Fui atrás e me reencontrei com o Bertold Brecht, e com o Maiakóvski, a muito tempo não dialogava com os dois. Por falta de tempo; olha a contradição, deixei de conversar com eles exatamente por estar correndo, embalado pelos sonhos de construção dessa sociedade que eles me ajudaram a sonhar. Como é bom reencontrar as origens, sentir o cheiro do nascedouro dos sonhos.

Muitas vezes aparece um sentimento ruim no peito, você luta, trabalha, constrói e quanto menos se espera "vira a esquina" aquilo que achava estar superado, enterrado...Como pode a cidade em que tanta coisa boa foi plantada: participação popular, democracia direta, fim do preconceito, igualdade de oportunidades, transparência; como pode essa cidade ainda conviver com censura, autoritarismo...

Os sonhos ainda estão longe, muitos revés ainda virão, talvez em plenitude eles nunca acontecerão. Mas é por eles que lutamos e que essa busca sempre nos estimule...

Que venham Maiakóvski e Brecht...


No caminho com Maiakóvski

"[...]

Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

[...]"



Elogio da Dialéctica

Bertold Brecht


A injustiça avança hoje a passo firme
Os tiranos fazem planos para dez mil anos O poder apregoa: as coisas
continuarão a ser como são Nenhuma voz além da dos que mandam E em todos os
mercados proclama a exploração; isto é apenas o meu começo

Mas entre os oprimidos muitos há que agora dizem Aquilo que nòs queremos
nunca mais o alcançaremos

Quem ainda está vivo não diga: nunca
O que é seguro não é seguro
As coisas não continuarão a ser como são Depois de falarem os dominantes
Falarão os dominados Quem pois ousa dizer: nunca De quem depende que a
opressão prossiga? De nòs De quem depende que ela acabe? Também de nòs O que
é esmagado que se levante!
O que está perdido, lute!
O que sabe ao que se chegou, que há aì que o retenha E nunca será: ainda
hoje Porque os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã