Lula em São Paulo: 'Não há hipótese de eu ficar quieto, a não ser a morte'. |
Com duro discurso em evento realizado
em São Paulo na noite desta sexta-feira, o ex-presidente criticou os
golpistas que disseminam o ódio: "Eu lembro do discurso de Hitler que
fez nascer o nazismo".
Rede Brasil Atual
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva fez, na noite de sexta (8), em São Paulo, um duro discurso contra
os articuladores do golpe que pretendem derrubar o governo Dilma
Rousseff. Apesar de ter afirmado que voltou a ser “o Lulinha paz e
amor”, ele não poupou ásperas críticas aos disseminadores do ódio e
disse que não vai se intimidar diante das pressões midiáticas, políticas
e jurídicas contra o projeto dos governos petistas.
“Não há hipótese de eu ficar quieto, a
não ser a morte. Ninguém vai me fazer abaixar a cabeça. Vou continuar
indo pra rua, defender a democracia”, disse. Ele encerrou o discurso de
cerca de 40 minutos com a frase que se tornou símbolo da resistência no
país: “Não vai ter golpe”.
O ex-presidente falou no Encontro da
Educação com Lula em Defesa da Democracia, no Centro de Convenções do
Anhembi, na zona norte da capital, organizado por movimentos sociais e
entidades da educação, como o Sindicato dos Professores do Ensino
Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), e a CUT.
No discurso, atacou o PSDB, a
disseminação do ódio pela mídia, o vice-presidente Michel Temer e o
plano Uma Ponte para o Futuro, do PMDB. Disse também que tem refletido
nos últimos tempos sobre exemplos da história, semelhantes ao atual no
Brasil, que terminaram em tragédias universais ou nacionais. “Eu lembro
do discurso de Hitler que fez nascer o nazismo. Eu lembro das razões de
Mussolini para criar o fascismo. Lembro dos discursos que levaram
Getúlio Vargas à morte em 1954, os discursos que fizeram contra
Juscelino Kubitschek.”
Sem citar o nome da empresa Andrade
Gutierrez, ele mencionou a mais nova delação premiada, que se insere no
contexto de incontáveis denúncias e acusações que alimentam as manchetes
de jornais, televisão, rádio e internet. “Essa delação premiada está me
cheirando um big brother. A empresa é de Minas. Certamente, é muito
ligada aos tucanos. Fiquei pasmo, porque na hora em que aparece na
imprensa, não aparecem os tucanos”, disse.
Em seguida dirigiu-se a Rui Falcão,
presidente nacional do PT, e alertou: “Pô, Rui Falcão, manda o nosso
pessoal pegar um pouco de dinheiro onde os tucanos pegam. Acho que eles
pegam na sacristia. Ou no dízimo”. Ele citou o escândalo da merenda, que
envolve tucanos de alta plumagem, como o presidente da Assembleia
Legislativa de São Paulo, deputado Fernando Capez. “A merenda não é
problema deles. A merenda é culpa de vocês”, ironizou.
Lula repetiu o recado ao ex-aliado
Michel Temer de dias atrás. “Quero dizer ao companheiro Temer: se quiser
chegar à presidência, dispute a eleição.” Afirmou ainda que o programa
Uma Ponte para o Futuro, do PMDB, “diz o seguinte: não tem mais verba
garantida para educação, saúde”.
O ex-presidente afirmou que o Brasil é
vítima de uma estratégia cujo objetivo é dividir o país, semelhante à
utilizada na América Latina contra outras nações. “Estão tentando
transformar o Brasil numa sociedade dividida como foi feito na
Venezuela. Queremos dizer pra todos, sem distinção: não irão transformar
esse povo maravilhoso, que tem orgulho de andar de vermelho, num povo
raivoso”, disse. “Nós não consideramos aqueles que botam uma camisa
amarela e vão para a Avenida Paulista fazer protesto, nossos inimigos.
Eles só são desinformados. Eles apenas não gostam de política, negam a
política. A Itália, quando negou a política, surgiu Berlusconi.”
Ódio
Lula responsabilizou os disseminadores
do ódio destilado ao longo dos quatro governos petistas por situações de
agressão contra militantes e membros do partido. “O que eles fizeram
foi para permitir que pessoas sejam agredidas quando chegam no
restaurante, nos aeroportos, na escola, para permitir que uma pediatra,
que não tem capacidade de ser pediatra, se recuse a atender uma criança
porque o pai da criança é um petista. Esse ódio nunca existiu neste país
e foram eles que fomentaram”, disse. “Qual é o mal que fizemos para
tanto ódio? Será que de repente aquele prédio da Fiesp virou defensor
dos trabalhadores e a CUT, inimiga dos trabalhadores? Será possível que
os demônios viraram santos e os santos viraram demônios?”
Lembrou os trabalhadores do Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) mortos ontem (7), em uma
emboscada contra o acampamento Dom Tomás Balduíno, em Quedas do Iguaçu
(PR). Pediu “uma salva de palmas aos dois companheiros sem-terra
assassinados. São mais duas vítimas da falta de respeito ao povo
brasileiro”.
Ele também disse que os movimentos
sociais e ele próprio devem “ajudar” a presidenta Dilma a mudar a
política econômica. “Não queremos o ajuste para fazer corte, corte,
corte. Nós queremos fazer crescimento, crescimento, crescimento.”
O ex-presidente fez uma autocrítica e
reconheceu que os governos petistas deixaram de realizar projetos
fundamentais, como a regulamentação dos meios de comunicação. “Não pode
continuar nove famílias mandando na comunicação deste país. Não fizemos
tudo o que queríamos fazer, e uma das coisas é a regulamentação dos
meios de comunicação."
O presidente da CUT São Paulo, Douglas
Izzo, afirmou que as manifestações contra o golpe vão continuar. “Por
que a CUT, a Frente Brasil Popular, a Frente Povo sem Medo estão contra o
golpe? Porque quem está por trás do golpe é a Fiesp, os banqueiros e a
elite, que querem chegar ao poder sem voto e cancelar os direitos
trabalhistas, mexer nos benefícios sociais de milhões de brasileiros.”
A presidenta da Apeoesp, Maria Izabel
Azevedo Noronha, a Bebel, falou da necessidade de explicar aos alunos,
nas escolas, sobre o que está acontecendo no país. “Não dá para
conversarmos com nossos alunos e deixar de explicar esse falso
impeachment com nome de golpe. O impeachment significará sobretudo que
vamos ficar de joelhos de novo para o FMI ditando normas para o Brasil.
Por isso, o papel dos professores é fundamental."