A lenda de Ernesto Che Guevara, o guerrilheiro heroico

 
Che em Moscow, 1960. Arquivo
Prensa Latina, Havana - 08.10.16

Quando o sargento boliviano Mario Terán assassinou a Ernesto Guevara da Serna em 9 de outubro de 1967, nunca imaginou que lhe pondo fim a sua vida paradoxalmente tinha contribuído a criar um mito.

Desde então a lembrança do guerrilheiro, político e intelectual nascido em Rosario, Argentina, em 14 de junho de 1928, provoca ardentes paixões em homens e mulheres de todos os continentes, alguns partidários de ideologias antagônicas, mas unidos pelo feitiço que provoca seu nome.

O país onde nasceu era um centro cultural sem paralelo em América Latina: comunistas, fascistas, anarquistas e socialistas mal viviam enfrentados uns com outros sem saber que com isso davam à cultura argentina o caráter plural e vivaz que a identificou em meados do século XX.

Nesse clima Guevara escutou pela primeira vez falar de política e filosofia.

Fazer a temporã idade pois desde os 12 anos sofria de ataques de asma que o obrigavam a permanecer em repouso e ocupava o tempo lendo com voracidade.

O hábito não o abandonou nunca: em uma carta datada em Bolívia para o final de sua vida pedia à esposa uma caixa de livros entre os que destaca um clássico como as Vidas Paralelas de Plutarco e obras de diversão como as de Julio Verne.

Mas seus biógrafos coincidem em que as viagens pelo continente a inícios da década do 50 (um deles junto a seu amigo e compatriota Alberto Granado) terminaram com a formação moral e ideológica de Guevara, ao contemplar com olhos próprios o sofrimento da América profunda.

Esse périplo levou-o a Guatemala para 1954,  onde foi testemunha de como o Exército, com o apoio de Estados Unidos, derrocou o governo progressista de Jacobo Arbenz e o obrigou a fugir para México.

México era uma espécie de santuário para os perseguidos políticos de todo mundo; albergava aos republicanos espanhóis vencidos por Franco e também aos opositores das ditaduras latinoamericanas.

A casualidade fez que ali conhecesse a Fidel Castro e seu grupo, que preparavam uma expedição para derrocar ao tirano Fulgencio Batista, usurpador da cadeira presidencial em Cuba desde 1952.

Com eles desembarcou no oriente de Cuba em 1956 e deu iniciou à mais fundamental de suas ocupações, a de guerrilheiro e revolucionário, que não culminou até sua morte na Higuera, Bolívia, em 1967.

A Revolução cubana foi a primeira de outras revoluções que tentou sem sucesso na América e África, mas a diferença da Bolívia e o Congo nesta pôde ser testemunha de como um povo conseguia tomar as rédias de seu próprio destino e enfrentava à nação mais poderosa do mundo para defender sua recente liberdade.

Não temia  enfrentar à difícil tarefa de governar um país acossado desde dentro e fora por inimigos disposto a voltar ao poder, mas seu elemento era a montanha, as escaramuças guerrilheiras: a tranquilidade urbana impacientava-o.

Em seu credo os povos do Terceiro Mundo tinham um único inimigo: o imperialismo estado-unidense, ao qual condenou nas Nações Unidas e de qualquer tribuna na que pôde falar.

Washington utilizou sua extensa rede de agentes e mercenários para localizar seu paradeiro até que por fim pôde o encontrar na Bolívia, ao cair prisioneiro em um duro combate com o Exército desse país, ao qual combatia desde 1965 com escasso sucesso.

Um agente da CIA enviado com o objetivo de assassiná-lo, Félix Rodríguez, deu a seus captores a ordem de matá-lo que provinha diretamente do ditador René Barrientos e só no ano 1997 puderam ser encontrado seus restos mortais, graças a uma equipe cubana de investigação.

No entanto, os assassinos não previram que ao eliminar a um homem de tanta autoridade, tão só acrescentariam seu prestígio, de maneira que ainda hoje o nome do Che Guevara permanece como sinônimo de rebeldia e justiça para os revolucionários de todo mundo.