Queimar a bandeira de sua pátria é sustentar o desconhecimento de sua própria existência no mundo como cidadão, tão como destruir qualquer material seu ou alheio, que represente uma instituição, um grupo etc.
Amo o meu país, defendo o território e meu povo com conhecimento de causa baseada em sua história e tudo que ele me trouxe para dizer até hoje: sou patriota.
Por Márcia Brasil
A despolitização é um caminho extremamente
útil para a mídia e elite brasileira, tem papel de esvaziar um debate
propriamente político para enchê-lo de moralismo e raciocínio fácil. Estes sim
violentam. O custo disso é altíssimo: sai de cena o motivo democrático, entra
em cena o ativismo neoliberal.
Por Caio Sarak – Carta Maior - 21.06.13
Uma manifestação que não depreda não é por consequência uma
manifestação pacífica. O apego a essas diferenças é importante para não cairmos
na tentação ingênua de nos afastarmos da história política brasileira. O
aumento da massa descontente não é um evento fácil de se compreender ou extrair
qualquer resposta, e, como tudo que é histórico, está sujeito ao contraditório.
As duas manifestações desta semana foram um espaço para estes contrários:
interesses de classes diametralmente opostas coabitaram as mesmas
manifestações.
A luta que o Movimento Passe Livre organiza faz parte (se é que podemos falar em partes) da luta de classe. A reconciliação de interesses contrários na luta de classes serve àqueles que querem conservar as estruturas como estão. A reconciliação é, em todos seus efeitos, violenta. E muitos são subtraídos dessa violência quando reclamam: o silêncio anterior da classe média paulistana não é o mesmo que o grito abafado que vem das periferias e dos movimentos sociais. Não se fala aqui de uma violência em abstrato (como são abstratos os cartazes contra a corrupção que apareceram nas últimas manifestações), mas se levanta contra a violência de um modo de vida de exclusão sumária de uma parte da sociedade: ir às ruas por um transporte gratuito e de qualidade vai frontalmente contra esse modo de vida.
Não, a violência não é ruim por princípio. Violentar os lucros exorbitantes da SPTrans, Metrô e CPTM; violentar a falta de diálogo em reuniões deliberativas sobre o destino da cidade; violentar um projeto de segurança pública higienista e racista. A boa conduta com dispositivos como estes é violência em extensa medida, e nada disto se coloca em debate por grande parcela desta classe média que só agora assume a rua.
O contraponto a alguns manifestantes que agora gritam "sem vandalismo", "sem violência" (bandeira levantada desde o início das manifestações, quando éramos considerados "grupelho" e apanhávamos da polícia) é o onipresente ódio daquilo que é distante e fora de seu cotidiano. Este fato se explica: ouve-se os gritos de "sem violência, sem vandalismo" quando alguém depreda o patrimônio público, por exemplo os portões do Palácio dos Bandeirantes (este é um exemplo muito interessante, como símbolo da opressão e da clivagem que faz o governo do estado de São Paulo entre classe média e os mais pobres). Até aqui nada de anormal.
O que faz toda a diferença é que esse pacifismo contém em si mesmo seu oposto, quando vemos os mesmos pacifistas gritarem e até agredirem militantes de partidos e membros de movimento social e/ou entidades de classe. Partidos e organizações que sempre estiveram em manifestações populares menores ou iguais a estas, agora têm de se calar frente a uma massa que, mesmo disforme e heterogênea, alega não precisar de qualquer bandeira deste partido ou organização a não ser a bandeira do Brasil - pátria amada, idolatrada.
A despolitização é um caminho extremamente útil para a mídia e elite brasileira, tem papel de esvaziar um debate propriamente político para enchê-lo de moralismo e raciocínio fácil. Estes sim violentam. O custo disso é altíssimo: sai de cena o motivo democrático, entra em cena o ativismo neoliberal. Nos gritos apartidários agressivos se enraíza uma fobia do Estado: quando da saída de todos os governantes, o que permanecerá? A condução do livre mercado? A competição e o utilitarismo individual?
Ao perder o seu lastro histórico e com isso todos debates realmente transformadores, a manifestação age como herdeira e, além de reprodutora, intensificadora de uma ordem econômica e política específica que já virou natural; as ruas e a mobilização são bem recebidas quando perdem seu potencial crítico efetivo. Os louros que recebemos hoje da grande mídia e da elite paulistana, historicamente contra o alargamento dos direitos dos trabalhadores e da periferia, soam mais como um sintoma de adoecimento do que um sinal de que os convertemos.
A luta que o Movimento Passe Livre organiza faz parte (se é que podemos falar em partes) da luta de classe. A reconciliação de interesses contrários na luta de classes serve àqueles que querem conservar as estruturas como estão. A reconciliação é, em todos seus efeitos, violenta. E muitos são subtraídos dessa violência quando reclamam: o silêncio anterior da classe média paulistana não é o mesmo que o grito abafado que vem das periferias e dos movimentos sociais. Não se fala aqui de uma violência em abstrato (como são abstratos os cartazes contra a corrupção que apareceram nas últimas manifestações), mas se levanta contra a violência de um modo de vida de exclusão sumária de uma parte da sociedade: ir às ruas por um transporte gratuito e de qualidade vai frontalmente contra esse modo de vida.
Não, a violência não é ruim por princípio. Violentar os lucros exorbitantes da SPTrans, Metrô e CPTM; violentar a falta de diálogo em reuniões deliberativas sobre o destino da cidade; violentar um projeto de segurança pública higienista e racista. A boa conduta com dispositivos como estes é violência em extensa medida, e nada disto se coloca em debate por grande parcela desta classe média que só agora assume a rua.
O contraponto a alguns manifestantes que agora gritam "sem vandalismo", "sem violência" (bandeira levantada desde o início das manifestações, quando éramos considerados "grupelho" e apanhávamos da polícia) é o onipresente ódio daquilo que é distante e fora de seu cotidiano. Este fato se explica: ouve-se os gritos de "sem violência, sem vandalismo" quando alguém depreda o patrimônio público, por exemplo os portões do Palácio dos Bandeirantes (este é um exemplo muito interessante, como símbolo da opressão e da clivagem que faz o governo do estado de São Paulo entre classe média e os mais pobres). Até aqui nada de anormal.
O que faz toda a diferença é que esse pacifismo contém em si mesmo seu oposto, quando vemos os mesmos pacifistas gritarem e até agredirem militantes de partidos e membros de movimento social e/ou entidades de classe. Partidos e organizações que sempre estiveram em manifestações populares menores ou iguais a estas, agora têm de se calar frente a uma massa que, mesmo disforme e heterogênea, alega não precisar de qualquer bandeira deste partido ou organização a não ser a bandeira do Brasil - pátria amada, idolatrada.
A despolitização é um caminho extremamente útil para a mídia e elite brasileira, tem papel de esvaziar um debate propriamente político para enchê-lo de moralismo e raciocínio fácil. Estes sim violentam. O custo disso é altíssimo: sai de cena o motivo democrático, entra em cena o ativismo neoliberal. Nos gritos apartidários agressivos se enraíza uma fobia do Estado: quando da saída de todos os governantes, o que permanecerá? A condução do livre mercado? A competição e o utilitarismo individual?
Ao perder o seu lastro histórico e com isso todos debates realmente transformadores, a manifestação age como herdeira e, além de reprodutora, intensificadora de uma ordem econômica e política específica que já virou natural; as ruas e a mobilização são bem recebidas quando perdem seu potencial crítico efetivo. Os louros que recebemos hoje da grande mídia e da elite paulistana, historicamente contra o alargamento dos direitos dos trabalhadores e da periferia, soam mais como um sintoma de adoecimento do que um sinal de que os convertemos.