Protestos reuniu uma multidão no Rio de Janeiro. Fotos: Tânia Rêgo/Agência Brasil |
Há exatos 22 anos, oito rapazes foram brutalmente
assassinados em frente à Igreja da Candelária, no centro do Rio de Janeiro. A
Chacina da Candelária, como ficou conhecido o episódio, é um ícone da violência
contra jovens negros e pobres no Brasil, e foi lembrada hoje (23) de manhã com
missa e ato interreligioso no local. Na parte da tarde, ativistas de direitos
humanos participaram da Caminhada em Defesa da Vida, partindo da igreja em
direção à Cinelândia.
Flávia Vilella - Agência Brasil
Irmã de um dos sobreviventes, Patrícia de Oliveira lamentou
que uma tragédia ocorrida há mais de duas décadas continue destruindo famílias
inteiras. Segundo ela, a sociedade acha que tem que matar adolescente, como se
antecedente criminal justificasse a morte. "Por isso, continuamos a fazer
as atividades, e essa caminhada hoje é contra a
redução da maioridade penal”, afirmou.
Ministro dos Direitos Humanos, Pepe Vargas |
De acordo com o ministro, também são necessárias mudanças legislativas, como a proibição dos autos de resistência, federalização das investigações e os julgamentos dos crimes cometidos por grupos de extermínio.
Pepe Vargas reafirmou que a redução da maioridade penal é um retrocesso sob o ponto de vista dos direitos e garantias individuais dos adolescentes, como também para o conjunto da sociedade, pois, em vez de diminuir, agravará a violência. “Precisamos construir uma cultura de direitos humanos e de respeito à integridade da pessoa humana, porque, infelizmente, isso ainda não aconteceu.”
Débora Maria (esquerda) que também perdeu o filho na baixada Santista, do Movimento Mães de Maio, apoia a manifestação no Rio com mães e pais. |
Após sobreviver aos quatro tiros que levou na noite da chacina, Wagner dos Santos, irmão de Patrícia de Oliveira, voltou a sofrer atentado em setembro de 1994, com mais quatro tiros. Ele sobreviveu, mas ficou cego de um olho e com várias sequelas. O Ministério Público então o colocou no Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas. Graças a ele, quatro dos assassinos foram reconhecidos. Hoje o rapaz vive na Suíça.
Marcha em Defesa da Vida e em memória da Chacina da Candelária, ocorrida há 22 anos |
Fundadora e coordenadora do Movimento Moleque – Mães pelos
Direitos dos Adolescentes no Sistema Socioeducativo, Mônica Cunha perdeu um dos
filhos, Rafael, aos 20 anos, morto por um policial em 2006.
Para ela, as inúmeras passagens de menores infratores pela
polícia devem-se, principalmente, à não implementação das medidas
socioeducativas. “O Estado legaliza a morte dessas crianças. Ninguém nasce
bandido. Torna-se autor de ato infracional pelas condições de vida, por falta
de direitos que o Estado não dá para a família, sem creche, sem casa, sem um
trabalho decente”, afirmou Mônica, ao destacar o papel da mídia e da sociedade,
que estimulam o consumo para uma maioria empobrecida.
*Colaborou Tâmara Freire, repórter da Rádio Nacional